Com o título “Um pé para a sustentabilidade urbana”, eis artigo de Cândido Henrique de Aguiar Bezerra, presidente da Associação dos Geógrafos do Ceará. Após o prefeito Roberto Cláudio ter implantado vários projetos no campo da mobilidade urbana, eis que o articulista sugere como alternativa para a sustentabilidade urbana e para a saúde: o caminhar. Confira:
Certa vez ouvi de um amigo urbanista que ao completar 20 anos comprou seu primeiro carro e depois disso passou outros 20 anos fora da cidade e dentro de seu carro. Na verdade, quando estamos conduzindo nossos veículos, mesmo em um terrível e cada vez mais comum engarrafamento, perdemos o contato próximo com o meio externo, como as calçadas, os passeios, aquela árvore frondosa e todos detalhes da cena urbana só perceptíveis para os pedestres, como bem cantava o velho rei do baião, Luiz Gonzaga, na canção Estrada de Canindé, “Coisas qui, pra mode vê o cristão tem que andá a pé”.
Caminhar pode parecer para muitos um ato tão natural quanto falar ou respirar, porém num mundo onde o tempo é dinheiro e muitas vezes precisamos nos deslocar para pontos opostos na cidade, a caminhada torna-se uma opção de mobilidade urbana praticamente impossível de ser utilizada e assim cada vez mais raro de ser realizada pelo homem moderno. Para isso os automóveis passam ser a primeira opção nos deslocamentos urbanos pois podem atender melhor às necessidades de mobilidade que o mundo moderno nos impõe.
O problema é que começamos a criar uma dependência tão forte com os automóveis que muitas vezes até pra ir na farmácia, ou na padaria a não mais que três quarteirões de nossas casas acabamos optando pelo veículo motorizado em detrimento a boa e velha caminhada. Muitos motivos podem nos levar a isso, talvez seja a segurança, pois estamos cada dia mais presos dentro de nossos mundos e isolados do restante devido a violência que nos rondam, ou pode ser por puro comodismo e sedentarismo, ou até mesmo pelas péssimas condições das calçadas e passeios ao longo do trajeto transformando uma simples caminhada em um verdadeiro desafio off-road, mas o fato é que cada dia mais a mobilidade a pé tem perdido espaço para os automóveis dentro dos grandes centros urbanos. E por essa razão começam a surgir em todo o país defensores de iniciativas que buscam a valorização desse meio de deslocamento.
No último dia 8 de agosto foi comemorado o dia mundial do pedestre, graças ao dia em que os Beatles tiraram a icônica foto atravessando a Abbey Road em Londres em 1969. Semana passada ocorreu em várias cidades do Brasil a Semana do Caminhar, articulada a partir da ONG SampaPé! e realizada junto de organizações e iniciativas parceiras, a Semana do Caminhar é um evento nacional para celebrar o caminhar, a forma de deslocamento ainda mais utilizada nas cidades brasileiras. É uma oportunidade de valorizar e chamar atenção da sociedade e do poder público para a forma mais sustentável, saudável e social de se deslocar. “Aprender Caminhando” foi o tema deste ano, já que, ao caminhar pela cidade, é possível descobrir histórias, aprender com a natureza, conhecer novos trajetos, apreciar a patrimônio histórico e arquitetônico e se conectar com o bairro e as pessoas.
Nesta edição, o evento contou com presença de mais de 35 organizações parceiras, e aconteceu em 10 cidades brasileiras: Belém, Manaus, Recife, Brasília, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Florianópolis, Curitiba e Pelotas, abrangendo todas as regiões do país. Fortaleza ficou de fora mais uma vez, porém não precisamos esperar sempre do poder público pra tudo e começarmos a utilizar nossas calçadas, praças e passeios públicos para o bem de nossa cidade e de nossa saúde. Vamos voltar a caminhar novamente, todos nós podemos ser mais sustentáveis.
*Cândido Henrique de Aguiar Bezerra,
Presidente da Associação dos Geógrafos do Ceará.