Brasil Publicada em 28/05/21 às 17:14h - 169 visualizações
O que pode explicar as mortes de pessoas por Covid, mesmo após vacinadas Óbitos de pacientes imunizados são raros, e não evidenciam que as vacinas não funcionam. Elas reduzem muito os riscos, mas nenhuma tem 100% de eficácia
Escrito por Thatiany Nascimento, Diário Do Nordeste
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Os imunizantes funcionam como redutores de riscos, e, por isso, garantir a imunização massiva da população é fundamental para restringir mais ainda as chances de morte (Foto: Fabiane de Paula)
A morte do cantor Agnaldo Timóteo, em março de 2021, em decorrência da Covid, dois dias após receber a segunda dose da vacina contra o coronavírus, e, mais recentemente, nesta semana, o óbito do sambista Nelson Sargento, de 96 anos, que também já estava vacinado, são episódios tristes que reacenderam dúvidas e também desconfianças infundadas sobre a real proteção gerada pelos imunizantes. Mas, o que pode explicar essas ocorrências?
As mortes de pessoas por Covid, após terem sido vacinadas no Brasil, têm sido raras. Especialistas ouvidos pelo Diário do Nordeste, explicam que o risco de óbito pela doença existe, mesmo após a imunização, independentemente de qual vacina tenha sido aplicada. Isso porque, embora sirvam como escudo, nenhuma delas tem 100% de eficácia.
No Ceará, no atual momento, os grupos prioritários são vacinados com três imunizantes distintos: Coronavac, AstraZeneca e Pfizer.
Os óbitos pós-vacinação são eventuais e podem ser explicados por distintos fatores, tais como:
Nenhuma vacina tem 100% de eficácia;
A vacina não impede de contrair Covid-19, mas na grande maioria dos casos evita a gravidade e até morte;
Há situações de pacientes idosos ou doentes crônicos com quadros agravados enquanto a vacina ainda não fez efeito;
Apesar das chances de óbitos serem pequenas, quanto mais o vírus circula, maior é a possibilidade de o imunizante falhar
As vacinas são seguras e funcionam como redutores de riscos, e, por isso, garantir a imunização massiva da população é um dos passos fundamentais para restringir mais ainda as chances de morte. Como nenhuma vacina tem 100% de eficácia, as doses podem não ter produzido o efeito esperado e haver contaminação e óbito.
O imunologista e professor da Universidade Federal do Ceará, Edson Teixeira, explica que as vacinas têm uma eficácia analisada na fase três do desenvolvimento, tem uma eficiência observada depois na população real, mas essa porcentagem de eficácia ou eficiência não garante 100%, sobretudo, na vida real.
"Para algumas pessoas que receberam duas doses é possível ainda que adoeça, que seja um caso grave, que a pessoa morra, mas obviamente é muito mais improvável, e com a possibilidade muito menor, do que a de uma que não se vacinou”
EDSON TEIXEIRA
Imunologista e professor da Universidade Federal do Ceará,
Outra dimensão a ser considerada nessas situações é que, em territórios nos quais a pandemia está descontrolada e o distanciamento social é baixo, mais infecções podem ocorrer mesmo entre os vacinados, devido à intensa circulação do vírus.
“Por isso, enquanto a gente não atingir um número de cobertura vacinal perto dos 60%, 70%, até 80% da população, o vírus vai continuar circulando. Por isso que a gente tem que ter cuidado mesmo após a vacinação. Isso não deve nos desencorajar a tomar a vacina, muito pelo contrário, é preciso reconhecer essas coisas e verificar que quem está vacinado tem chance muito menor de adoecer”, acrescenta o professor.
Já destacado pelas autoridades sanitárias e reforçado pelo professores, é essencial que mesmo após vacinada, a população mantenha os cuidados como: uso correto de máscara, higienização constante das mãos, distancimento social e evitar permanecer em ambientes fechados com inúmeras pessoas.
EFICÁCIA X EFETIVIDADE
O biomédico e microbiologista, Samuel Arruda, reforça que inclusive nenhuma medicação, mesmo sendo avaliada, “pode garantir 100% de eficácia, e nem de efetividade”. Mas, qual a diferença entre os dois conceitos?
Em termos gerais, a eficácia de uma vacina é calculada nos testes clínicos em laboratórios com grupos de voluntários que participam da análise, enquanto a efetividade é medida no "mundo real", quando a vacina é, de fato, aplicada na população.
"Quando a gente vai avaliar um teste em laboratório, um estudo, o que a gente está avaliando é a eficácia da vacina. Quantos indivíduos serão protegidos pela vacina em um ambiente controlado. Já quando a gente passa a falar de efetividade é quando essa vacina vai ao público e, ali ela vai encontrar outros grupos de indivíduos, características no mundo real que ela não encontrou no ambiente laboratorial", explica Samuel Arruda
Além disso, reforça ele, no “mundo real” as formas de manejo da vacina vão ser distintas. “Por exemplo, como essa vacina vai ser transportada, será que em todas situações ela é transportada em condições ideais? Tem uma série de características que essa vacina vai ser sujeita que não foi sujeita nos teste porque não tem como avaliarmos esse tipo de coisa”.
Ele também reforça que a cobertura vacinal interfere na efetividade da vacina. No Ceará, conforme dados mais atualizados do Vacinômetro da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), dos 9,1 milhões de habitantes, devido à escassez de vacinas no Brasil, só 975 mil tomaram as duas doses até o momento. Isso representa, 10,6% do total de residentes no Estado.
“Se você tem pouca gente vacinada, o vírus ainda vai estar circulando e vamos observar muitos casos. Esses casos vão se manter porque não tem um efeito de proteção de conjunto. Apesar de o indivíduo tomar a vacina, a vacina é pensada como uma proteção de grupo”
SAMUEL ARRUDA
biomédico e microbiologista
COMO AVALIAR A EFETIVIDADE DA VACINA?
A principal forma de avaliar a efetividade da vacina, explica Samuel, é o monitoramento epidemiológico sobre cobertura vacinal e quantidade de casos da doença. "Fazemos isso para a influenza, para o sarampo. Vemos que quanto mais pessoas vacinadas, menos casos ocorrem. Tem que fazer o acompanhamento serial desses casos. Para fazer essa avaliação é preciso anos de acompanhamento.
No caso da eficácia das vacinas, conforme os estudos apresentados à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), as porcentagens são as seguintes:
Coronavac: eficácia de 50,7% para quem toma das duas doses;
AstraZeneca: eficácia de mais de 70% na primeira dose. Após a segunda dose, a eficácia chega a quase 100% para casos graves e mortes;
Pfizer: eficácia de 91,3% após as duas doses
As eficácias não podem ser comparadas entre si, pois, além das tecnologias utilizadas nas vacinas serem distintas, os testes foram realizados com amostragens diferentes.
O Diário do Nordeste solicitou à Sesa, via email, informações referentes à existência ou não no Ceará de notificação oficial em caso de morte ou internação por Covid que indique se o paciente estava ou não vacinado contra a doença. Também foi indagado se há, nas unidade do Estado, algum estudo da efetividade das vacinas no território cearense. Mas, até a publicação desta matéria não houve resposta.
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