(Foto: Rádio Fm Opção)
O mais barato, o Lamotrigina 0,25 miligramas (mg), custa R$ 15 no mercado. É usado por pacientes com epilepsia. O mais caro, o Tysabri (Natalizumabe), chega a R$ 6.690 no preço médio. É para tratar casos de esclerose múltipla, enfermidade que compromete o sistema nervoso central e tem ação degenerativa.
Uma lista de 16 medicamentos que deveriam ser repassados gratuitamente pelo Hospital Geral de Fortaleza (HGF) a pacientes com doenças especiais - raras, crônicas ou incuráveis - estão em falta ou tendo problemas frequentes de estoque, dentro do programa de distribuição executado na unidade. São remédios que não podem ter o uso interrompido pelo paciente, sob risco de comprometer o tratamento ou até levar a óbito.
O POVO Online esteve no HGF na segunda-feira, dia 17, pela manhã, e atestou a falta dos 16 medicamentos naquela data. Para indicações diversas: tratamento de tumores, Doença de Parkinson, Alzheimer, falta de ar, para controle de hepatites, transtorno de ansiedade ou até para controlar o nível de cobre no organismo ou osteoporose (enfraquecimento ósseo). Participam do programa pacientes cadastrados, a maioria avaliada em consulta no próprio HGF.
A ausência no estoque foi confirmada a partir de lista obtida por um familiar de paciente atendido pelo programa e repassada ao O POVO Online. Sem se identificar, o repórter entrou na fila e perguntou sobre a disponibilidade dos remédios. A informação foi confirmada por um atendente do setor da Farmácia do Hospital.
O problema foi depois reafirmado em nota pela Secretaria Estadual da Saúde (Sesa). Alguns dos itens já estariam faltando repetidamente desde março, conforme relatos de mais familiares ouvidos pela reportagem. Também por telefone, em contatos feitos à Farmácia do HGF na manhã de terça-feira, 18, alguns dos medicamentos, escolhidos aleatoriamente, continuavam sem previsão de serem repostos.
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Medicamentos em falta
No balcão de atendimento, sob o teclado do funcionário, a relação dos remédios fora de estoque é material de trabalho para orientar pacientes ou parentes. É atualizada diariamente, segundo um dos atendentes. A medicação Everolimo 0,5 mg, que possui agentes imunossupressores para reforçar a defesa do organismo de pacientes transplantados, custa R$ 1.223. Dependendo da dosagem indicada pelo médico, pode chegar a quase R$ 15 mil em algumas fórmulas.
O POVO Online fez a consulta de preços médios em sites de revenda - que inclusive participam de licitações públicas. Outro dos mais caros é o Somatuline (acetato de lanreotida), de 90 ou 100mg, que custa R$ 3.740. É aplicado em pacientes com acromegalia, doença que causa a produção excessiva do hormônio do crescimento.
Os familiares dos pacientes que conversaram com O POVO Online preferiram não ser fotografados. Mas não resumiram suas histórias de transtornos com a situação. No perfil, os pacientes costumam ter ganhos de aposentadoria como única renda. Quando se veem obrigados a bancar as medicações, as contas não batem.
Histórias de quem sofre sem medicamentos
Marta Oliveira, 67 anos, e o marido, Francisco Valmir, 63, ganham juntos pouco mais de R$ 2.300 de aposentadoria, segundo ela. Ele está há sete anos convivendo com o diagnóstico da doença de Parkinson e é ela quem cuida. "A gente paga aluguel e não dá para comprar remédio caro. Ele precisa tomar três caixas da medicação por mês. Nossa renda é só essa", conta. O medicamento é o Sifrol, de 1 mg (princípio ativo Pramipexol). Cada caixa custa R$ 149 no mercado.
Na terça-feira à tarde, o produto continuava em falta no estoque do HGF. Dona Marta esteve no hospital e voltou a ouvir do setor de farmácia que o remédio não chegou ainda. "Não nos deram nenhuma previsão. Está faltando há três meses. Ligo toda semana", lamenta. "Ele não pode ficar sem o remédio porque não se levanta, não consegue fazer nada. As pernas não se estabilizam".
A filha do casal, Fernanda, conta que o pai chegou a tomar o Sifrol na dosagem menor, de 0,25 mg, para tentar compensar a falta. "Mas não é o certo. São muitos mais comprimidos por dia para ele".
SECRETARIA ADMITE PROBLEMAS NO ESTOQUE E INFORMA SITUAÇÃO DE CADA MEDICAMENTO
A Secretaria Estadual da Saúde (Sesa) admite o problema de falhas no estoque da farmácia do Hospital Geral de Fortaleza. Em nota, enviada na noite de terça-feira, a pasta informou ao O POVO Online que "está tomando medidas para aperfeiçoar o modelo de aquisição de medicamentos e reduzir problemas nos processos que podem resultar na descontinuidade do abastecimento, como a falta de normatização dos medicamentos (inclusão no elenco de fármacos do SUS) e o descumprimento de prazo pelos fornecedores".
Não foi confirmado desde quando o problema no estoque começou. Familiares dos pacientes denunciam que a situação teria se iniciado em março último.
Sobre a reposição dos medicamentos, a Sesa afirma na nota que já “houve regularização do estoque” dos seguintes medicamentos:
1. Formoterol + Budesonida (princípio ativo do Alenia)
2. Leuprorrelina
3. Ribavirina
4. Lanreotida
5. Lamotrigina
6. Pancreatina
Duas das medicações, prossegue o informe da Secretaria, já estão “em processo de aquisição”:
7. Penicilamina
8. Raloxifeno
A Secretaria acrescenta que um medicamento está “aguardando a entrega pelo fornecedor”:
9. Piridostigmina
Dois dos itens, conforme a nota da Secretaria, “sofreram desabastecimento porque foram licitados, mas houve falha na aquisição”:
10. Fludrocortisona
11. Clobazam
Não foi esclarecido o tipo de falha encontrada, mas aponta que "está buscando alternativas para aquisição destes medicamentos".
“Dos 16 medicamentos citados (em falta no estoque na última segunda-feira), cinco são de aquisição centralizada pelo Ministério da Saúde”:
12. Entecavir
13. Everolimo
14. Natalizumabe
15. Pramipexol
16. Tenofovir
A Secretaria acrescenta que ainda aguarda o repasse e que já solicitou prioridade na entrega. Não ficou esclarecido quando a reposição ao estoque será normalizada. O POVO Online não obteve informações sobre valores envolvidos na compra dos medicamentos nem quantos pacientes cadastrados são beneficiados atualmente com o programa de gratuidade.